Fernando Pessoa é o poeta dos heterônimos. Ele mesmo explica: “Desde criança tive tendência para criar um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiam”. Num certo sentido, Fernando Pessoa ele-mesmo é também um heterônimo. Poeta fingidor, nada nele é diretamente confessinal ou biográfico. Pessoa é a “expressão dramática de uma busca de identidade”. O heterônimo Ricardo Reis representa o homem clássico, preso aos valores da Antiguidade. É o culto do instante, o viver intensamente a vida, é o epicurismo a se revelar pelo prazer equilibrado. Mas é, também, a consciência da transitoriedade, da presença constante da morte.