“Na palavra ‘sonho’ há uma natural conotação de despojamento, incerteza; ‘sonho’ pode ser qualquer um, qualquer coisa (…)” — assim Harold Bloom esmiúça o título desta que é considerada a primeira obra-prima de Shakespeare. Nesta fábula há uma variedade de temas e relações, onde folclore e mitologia aliados ao encadeamento mágico e trágico compõem um painel onírico jamais visto em nenhuma das obras do dramaturgo inglês. Essa polifonia talvez seja a grande virtude deste texto em que Shakespeare utiliza-se de uma fina e inteligente comicidade para deixar a reverência a deuses e reis de lado, apresentando tais seres veneráveis sob aspectos pouco solenes; seres cuja elevação reside em suas próprias insuficiências e imperfeições, reforçando o caráter essencialmente universalista da obra do bardo.